quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A morte necessária da razão



Era uma tarde de luz azul vibrante
As estrelas tentavam me espiar
As mãos no rosto não deixavam que me reconhecessem
Era tarde da noite
O desejo súbito e mais verdadeiro é de que não houvesse estrelas
O desejo é de que não houvesse nada...
As mãos não me escondem do mundo
E sim o mundo de mim
Era quase uma opaca escuridão
O calor era do abraço solitário
Era do agasalho que não me abandonou
Do coração que em mim acreditou
Dos meus sapatos que me viram mau
E mesmo assim não me deixaram só
O meu sangue...
Do meu sangue que tentei ver
E que por timidez e gratidão
Não quis aparecer
De costas a uma rocha amiga
Fico sem saber o que fazer
A gota salina que escorre por dor
Faz seu caminho acariciando o rosto
Como por amor
Como se quisesse confortar
Como se não quisesse abandonar
Como se quisesse...
As mãos frente aos olhos
Fecham devagar
Acomodando em dobras
Todas as marcas das palmas
A língua umidece os lábios
Ressecados pelo vento frio
O coração avisa que há vida
O ouvido apita
A boca grita
O eco distante faz companhia
O sorriso é ríspido
Se as mãos quente estavam
Agora aos poucos
Frias ficavam
É somente um pesadelo
Ou da vida sofrida
Do coração machucado
Do amor duvidado
Um desejo,

..

["A morte necessária da razão"]
[Paulo Ricardo]