Serão estas as horas perdidas,
Quando não existe causa alguma,
E apenas se saboreia em silêncio
A chuva que se vê do outro lado da janela?
Não se poderá ver algo
Se o nosso olhar estiver cego
Pelo desprezo da condição humana.
(Olhar destroçado, lutando por uma causa perdida...
Olhar destruído, morrendo pela causa errada...)
Não vale a pena despertar os fantasmas perdidos
Daquele passado árido e agreste.
Quererei eu acordar com eles
E voltar mais uma (e talvez) última vez
Do caminho que evitei?
Quererei eu morrer abraçada
A todas as almas que um dia possuí?
Calar-me-ei com todas as minhas
Palavras gritantes
Que apenas mostram vazio.
Calar-me-ei de vez,
Pois os mortos não renascem
E a única e verdadeira alma que tenho
É a minha, e esta não a partilharei!
Não sou alimento para cães sedentos
Pelo sofrimento dos demais!
Se querem aberrações, olhem-se ao espelho.
Todos nós guardamos segredos obscuros
Que não revelamos sequer à nossa sombra.
Talvez se calassemos os lamentos
Poderiamos apreciar quão bonita está a noite.
A chuva parou, e as estrelas
Brilham bem alto no céu negro...
As palavras são apenas veneno que mata
Até a alma mais perspicaz e cegam o ser mais puro.